sexta-feira, junho 29, 2012

haja coragem pra viver.

"Haja coragem pra viver", dizia meu avô. E hoje eu tive, sai do emprego, abracei o novo, o desafio e estou muito feliz e satisfeito. Tive o reconhecimento do meu trabalho por todos os meus chefes e fui recomendado para o cargo que irei ocupar nos próximos meses. Quando minha chefe veio me dizer que estavam me querendo pro trabalho, que por eles tudo bem eu aceitar ela me perguntou "é muita ralação, você está preparado?". Eu sorri e respondi de prontidão "Eu nasci pronto", e abri um largo sorriso. Minha chefe sorriu de volta e disse que não duvidava disso.

Estou plantando agora as sementes dos frutos que quero colher lá na frente. Como dizia meu antigo chefe "a oportunidade é um cavalo pelado da cara cabeluda, a gente só consegue agarrar ela quando ela passa pela gente", e eu montei nessa danada e já estou no galope.

Sim, estou MUITO feliz. Mas embora esteja muito feliz, hoje ao sair do trabalho, ver minha mesa limpa, com uma caixa com minhas coisas pessoais nas mãos eu enchi os olhos d'água, pois foi ali onde eu aprendi realmente a ser o profissional que sou hoje, realizando a profissão que idealizei, sonhei e batalhei pra conquistar desde pequeno. Lembram do que a vidente disse? A mulher é fera.

Mas nem tudo são flores, meu primeiro pensamento foi em ligar pro Rafa e contar. Eu queria sair do trabalho e ir vê-lo, dividir minha alegria e minhas conquistas. Abri a gaveta e guardei esse sentimento dentro. Marejei os olhos e vim pra casa, queria muito estar com ele, mas eu jurei a mim mesmo que não iria me humilhar nunca mais e sou um geminiano tinhoso, honesto e cumpridor da palavra.

Abaixo uma frase que amo e tenho na parede do meu quarto.


"Cantar, sonhar, passar, ter liberdade e fibra, 
ter a vista segura, e ter a voz que vibra, 
fazer o que bem quero e - espanto dos perversos - 
por um sim por um não bater-me, ou fazer versos, 
trabalhar, sem visar a lucros e honrarias, 
numa excursão à lua e noutras fantasias! 

 ...Depois, se acaso a glória entrar pela janela, 
a César não dever a mínima parcela, 
guardar para mim mesmo a gratidão mais pura. 
Enfim, sem ser a hera - a parasita obscura - 
nem a seringueira - gigante do caminho - 
subir, não muito, sim; porém subir sozinho!." 
 [Edmond Rostand, em Cyrano de Bergerac]




quarta-feira, junho 27, 2012

o mergulho.

Ando com o coração em frangalhos. Sim, eu sei que tem sempre alguém para dizer "eu te disse" e apontar que minha história e do Rafa não daria certo. Mas, infelizmente, eu não estou em frangalhos (só) por ele.

Meu emprego é um grande aquário, de muita visibilidade, tanto pro bem quanto pro mal. Ganho meu salário justo e honestamente, e embora seja um bom salário pelo que faço, pela quantidade de confiança em mim depositada e na responsabilidade que tenho pelo que exerço eu acho que deveria ganhar bem mais. Já faz alguns meses que entrou uma criatura que tem tentado puxar meu tapete desde que entrou, em dezembro. Mina minha confiança ao lembrar sempre que é amiga da filha do chefe maior, nem meu chefe direto gosta dela, mas tem que engolir. Sim, ela é boa profissional, entende do serviço e o faz direito. Mas passa o tempo tentando pegar o que é meu. Para ter uma ideia, qualquer ramal da sala pode tocar que ela não puxa a ligação, mas se for o meu ramal ela puxa e se oferece para ajudar e pergunta tudo sobre o assunto se mostrando interessada e solícita. Não preciso dizer que o cara boa praça que sou, com ela não sou. Sou calado, lacônico e realmente finjo que ela não existe, mas anda bem difícil.

Recentemente, um fornecedor nosso, de São Paulo, me perguntou se eu moraria em Sampa. "Sim, moraria.", respondi prontamente. Continuei a frase explicando que precisaria de uma boa proposta para me mudar de cidade, mas sim, SIM, eu iria. Essa semana me sondaram para trabalhar em uma campanha política, eu disse que estava aberto a conversar. Mesmo sabendo que estaria empregado três meses e que talvez meu chefe não me aceitasse de volta e tivesse que colocar o curriculo debaixo do braço quando a campanha acabasse eu fico não só tentado, mas torcendo para acontecer.

Por enquanto é só isso, torcer. Me sinto com tudo nas mãos e ao mesmo tempo com nada. Gosto do que faço, gosto do meu emprego, mas ultimamente não tenho amado ir pra lá. Ultimamente tenho rezado para os finais de semana chegarem depressa demais, muito mais que o normal. Adoro quando chega sexta feira, e não é porque o fim de semana chegou, mas porque não tenho que ir pra lá e encontrar o satanás encarnado que senta na minha frente.

E muitas vezes tenho precisado de um abraço, de colo, e quero ligar pro Rafa, mas não ligo. Sinto uma enorme vontade no meu peito de chorar, mas ando tão apático que nem isso tenho conseguido colocar pra fora. E hoje vi o Rafa, e juro, que quis tanto abraçá-lo, mas apenas o cumprimentei de longe e me senti vazio. E fico torcendo para que aparece uma oportunidade e me leve pra longe daqui. Quero mergulhar no novo.
O mundo começou a mudar, e somos todos participantes desse processo.

quinta-feira, junho 21, 2012

Curta-metragem "Não Gosto dos Meninos", de André Matarazzo e Gustavo Ferri. Inspirado no projeto internacional "It Gets Better". Um vídeo maravilhoso que nos relembra que o que nós somos, são realmente os nossos valores e o que fazemos pra mudar o mundo.

segunda-feira, junho 18, 2012

o reencontro com o Rafa e proposta indecente

Depois de um mês revi o Rafa, acho que me preparei tanto para esse encontro e não planejei nada que o resultado não pareceu forçado. Fazia tempo que eu tinha prometido à ele e a um amigo de apresentá-los para conversarem sobre um negócio em comum que eles estão tocando e poderiam se ajudar trocando informações. Eu era tanto cobrado por um quanto por outro e tentei me esquivar ao máximo para que eles se encontrassem sozinhos, mas meu amigo sempre fazia questão da minha presença e marcamos no sábado. Não teve jeito, eu fui. Pior, como era perto da casa do Rafa, ele me pediu para buscá-lo.

Cheguei em sua casa e liguei para ele descer, ele falou para eu subir e eu disse que esperava no carro. Quando eu o vi despontando na saída da casa dele, peguei o celular, com as duas mãos, assim eu evitava qualquer cumprimento, mas fui simpático e cordial oralmente. Aliás, nem forcei a barra com isso, mas realmente conversamos como amigos e o papo fluiu muito bem. As vezes eu nem lembrava de quão destruído estou com essa situação e nem fiz drama ou lancei piada. Foi uma conversa legal e bacana. Natural.

Chegamos na casa do meu amigo, os apresentei e ele foi mostrando os projetos dele e perguntando pro Rafa o que ele achava, eles conversaram bastante e eu apenas analisava o material, muito mais como curioso do que profissional (apesar de ser uma área a fim da minha, eu sou leigo no que eles tratavam, sendo apenas um admirador). Passamos duas horas e meia lá e fui deixar o Rafa em casa, meu telefone não parava de tocar com meus amigos me chamando para uma bebidinha. O deixei em casa e ele pediu para que eu subisse para ver um material dele. Subi, vi, achei legal (de verdade) e de repente senti um sono imenso. Parecia que eu não tinha dormido na noite anterior, eu bocejava muito. Deitei na cama dele enquanto ele tomava banho e quase dormi. Quando ele saiu do banho eu disse que tinha que ir, pois tinha combinado de passar na casa de uma amiga minha (que é perto da dele). Normalmente, a gente se despede na porta da casa dele nos abraçando, andamos o corredor conversando, descemos as escadas e ele me leva até a porta do carro. Eu desandei a falar sobre minha viagem para a terra da garoa e disse que ia embora, fomos andando pelo corredor (não nos abraçamos), desci as escadas falando ainda e quando cheguei vi que ele não me seguiu pelas escadas. Me virei e disse "Então beleza, depois a gente se fala. Falô". Não olhei para o seu rosto para que ele não "lesse" o meu, entrei no carro e parti. Senti uma onda enorme de tristeza me invadindo e a vontade de chorar, mas não chorei. Eu sei que eu impus esse comportamento, mas também esperava que ele agisse igual antes. Sim, é contraditório eu agir diferente e querer que ele aja igual, mas essa dualidade faz parte do meu ser geminiano.

Mudei o rumo, não fui pra casa da minha amiga (inventei uma desculpa amarela pra ela) e fui para a casa de um casal de amigos que é bem distante da dele, no caminho fui dirigindo triste, escutando as músicas de dor de cotovelo que amo escutar (obrigado Fagner por cantar minhas dores tão bem) e quando eu estava chegando ele me liga perguntando se eu ia demorar na casa da minha amiga porque ele queria saber se eu não queria lanchar com ele. A onda de tristeza se foi, eu sorri. Senti vontade de dar a meia volta e ir lanchar com ele, ouvir ele falando sem parar como gosta de fazer e eu apenas ouvi-lo e ser sua companhia. Depois podia rolar uma cervejinha e ficarmos deitados abraçados conversando, como eu gosto. "Ah, fica para outra vez, Rafa. Vim pra casa de outros amigos, estou longe daí". Comi muitos petisquinhos de lagosta, polvo, camarão e bebi cervejinha e vodca. Não liguei pro Rafa, não mandei torpedo. Aliás, nisso eu estou muito bem, eu bebo e não mando torpedo pra ele. O lado bom é que não senti mais sono, me diverti horrores com meus amigos e voltei pra casa feliz. 

Eu não sei explicar o porque da certeza que existe dentro de mim de que vamos ficar juntos. Eu nunca senti isso antes, mas também evito ficar pensando nisso pra me dar uma confiança (que não tenho) e mais tarde quebrar a cara. Só sei que essa certeza me deixa tranquilo e sereno, sem ansiedade em relação à ele, nem pressa de viver as coisas e sem culpas. Falando em culpas, o Rodrigo me propôs uma suruba com um amigo dele e eu estou muito a fim de topar...

quinta-feira, junho 14, 2012

apatia e segredos.

Acho que por conta dessa última semana de inferno astral tenho andado meio apático. Um pouco em pânico com a nova (VELHA) idade, mas ando mesmo apático. Nada me faz rir, nada me faz sentir. Eu tenho apenas existido esses últimos dias. Sim, pode ser uma tristeza e hoje, pela primeira vez na minha vida, eu queria poder voltar no tempo e ter coragem de fazer algumas coisas de forma diferente. Mas o tempo não volta, não é?

Mas queria falar um pouco da terra da garoa, de como foi tão legal em apenas cinco dias. Me senti tão importante, tão amado, tão feliz que não quis voltar pra minha vida aqui. Meu amigo cardiologista foi perfeito comigo, me levou para lugares muito legais, me apresentou seus amigos e me confidenciou segredos. Sim, ele me disse que era gay, o porque amava a cidade que morava e que estava muito feliz e assumiu o namoro com o arquiteto. Sim, eu me senti muito feliz em ouvir aquilo e, juro, quis falar de mim, mas não falei. Não é fácil pra mim dizer que sou bissexual e relatar que fui estuprado aos 15 anos.

Nunca tinha dito isso aqui e apenas um dos meus amigos sabe disso, mas esse segredo é um fardo, pois envolve muita coisa que magoaria muito minha família. Convivo com isso e não é fácil, pois continuo tendo tesão quando me imagino sendo estuprado, depois morro de nojo de mim mesmo. É ruim, muito. E as vezes acho que o menino que eu era morreu naquele dia, por volta das 23h no meio daquela casa em construção. O menino que saiu dali, desesperado, vestiu uma máscara e chegou em casa com um sorriso no rosto, pois sabia que falar aquilo iria encher sua família de culpa porque não quiseram ir buscá-lo no shopping. Era um período muito difícil que passávamos e a escolha que fiz em esconder me foi a mais acertada no momento.

E embora meu amigo tenha dito que me considera um irmão, eu não me sinto no direito de dividir esse fardo com ninguém, mas ao mesmo tempo acho que somente quando eu falar mais sobre isso vou poder me ajudar mais. Me libertar mais. Viver. Isso me faz ruim para com meu amigo/irmão? Eu sei que ele esperava que eu dissesse algo meu e só lhe dei meu silêncio e amizade. Tenho pensado em falar com ele quando vier em agosto, mas será que ele quer saber? É muito difícil pra mim falar nesse assunto.

domingo, junho 03, 2012

o patinho feio.

Quinze anos atrás conheci um rapaz durante meu terceiro ano no colégio, ele não me chamou a atenção, era tímido e gago. Alto, magro, cabelo lambido arrumadinho, partido de lado, óculos fundo de garrafa. Não nos tornamos amigos, não convivíamos e não tenho uma foto dele sequer nos passeios da turma, os únicos registros de que estudamos juntos são as fotos oficiais do colégio. Bem, quinze anos se passaram quando eu recebo um convite de amizade no facebook, olhei aquele nome e não me recordava. Fuçei as fotos, tampouco me lembrava daquele rapaz com grande peitoral, cabelo grandinho, sorriso farto. Aceitei pois tínhamos amigos em comum de colégio e eu fico muito constrangido quando não lembro das pessoas.

Confesso que olhei as fotos dele várias vezes buscando lembrar quem era a pessoa. Conversando com alguns amigos, eles diziam "É o Alberto, Dramma"e eu na mesma, sem fazer a mínima idéia de quem era esse Alberto. Então tivemos um encontro da turma e quando ele chegou perto e veio falar comigo, começou a gaguejar e eu lembrei dele. Comecei a rir e o chamei pelo apelido de colégio, o que o deixou fulo da vida e fez as pessoas na mesa caírem na risada. Sim, agora eu lembrava dele, o patinho feio. Cresceu, ganhou corpo e ficou um cara muito, mas muito gostoso.

Não sei porque começamos a nos falar e ele começou a me mandar sms nos fins de semana perguntando onde eu tava. Ficávamos nessa punhetação de troca de mensagens quando eu resolvi jogar o anzol e disse "estou com minha amiga vodca, estou facinho, facinho". E ele respondia com algo do tipo "agora é só pegar na mão e levar pra casa". Mas eu esperava ele dar um passo de perguntar se podíamos nos encontrar e, como ele não dava, eu ficava inerte.

Ontem trocamos nossas maliciosas sms ébrios e eu disse que era legal, um bom rapaz. Ele respondeu "não confio em você, Dramma". E riu. E não mandou mais sms, e nem eu. Um amigo meu, gay, disse que existem boatos que ele pega geral e que acha que ele olha muito pra mim quando saímos na última vez. Outra vez nos encontramos em um barzinho e uma amiga minha disse que ele era gay, eu ri e perguntei o porque "quando você levantou ele secou a tua bunda". E me pergunto, porque tenho medo de investir? Porque sempre eu que tenho que dar o primeiro passo?